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São João del Rei
310 anos

História de São João del Rei - MG

São João del Rei, a cidade onde os sinos falam

Por Douglas Vivas

Quem chega a São João del Rei logo ouve um som diferente e que ecoa por todo o centro da cidade: é o badalar dos sinos. Reconhecida como patrimônio imaterial brasileiro pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a linguagem dos sinos das igrejas e catedrais tricentenárias ajudam a ditar o ritmo da vida dos moradores, que sabem conviver com os aspectos da antiga colônia portuguesa e com a pujança de um moderno centro comercial, polo do Campo das Vertentes, em Minas Gerais.

Os primeiros documentos que fazem referência à localidade datam do século 17, quando paulistas intensificaram incursões pelo interior do continente americano. Entre os bandeirantes, destaque para Tomé Portes del Rei, de Taubaté (SP), que se instalou próximo a um rio, que mais tarde seria batizado de Rio das Mortes. Dada a sua localização estratégica e de ligação com os Sertões de Caeté e a região das minas do Carmo, Ouro Preto e Sabará, o novo povoado passou a ser chamado de Porto Real da Passagem.

Nome que até hoje faz jus ao município, que vê sua população aumentar exponencialmente, ora pelos moradores das cidades vizinhas que vêm trabalhar no comércio, fazer compras, estudar ou para atendimento na rede hospitalar sanjoanense, ora pelos turistas de todas as partes do país, que chegam para conhecer um pouco mais da história nacional, passear nas ruas de pedra, assistir missas e sentar nos vários cafés e barzinhos da cidade. Opções de lazer e cultura a cidade tem aos montes.

Era 1703, a localização privilegiada deixou de ser o principal atrativo para expedicionários e aventureiros. O português Manuel João de Barcelos percebeu diversas manchas de ouro nos morros da região, que logo começaram a ser exploradas por paulistas. A crescente concentração de pessoas fez surgir então um novo povoado, agora disperso às margens do Córrego do Lenheiro: à esquerda, onde hoje existem as igrejas do Senhor dos Montes e de Nossa Senhora das Mercês e, à direita, a Capela do Senhor do Bonfim.



Surge o nome São João del Rei

O novo arraial, este batizado de Rio das Mortes, surgiu primeiro por sua posição geográfica e depois pela riqueza aurífera. Tal riqueza foi motivo de grande disputa entre os paulistas e exploradores vindos de outras regiões, que viam nas minas uma oportunidade de mudar de vida e enriquecimento. Assim, entre 1708 e 1709, o assentamento foi palco de um conflito armado, a Guerra dos Emboabas.

Vindo da língua tupi, emboaba era o termo utilizado pelos índios para denominar as aves que tinham penas por todo o corpo. Logo, o termo caiu na boca dos paulistas para se referirem aos outros forasteiros que chegavam à região. Com o apoio de localidades, como Caeté e Vila Rica, os emboabas saíram vencedores da batalha, que lhes rendeu o controle político, econômico e social do arraial.

Com o fim da guerra, Portugal percebeu uma oportunidade de lucrar com o trabalho dos emboabas e instituiu a cobrança de impostos, a começar pelo quinto: um quinto de toda riqueza encontrada deveria ser destinada à coroa. Antes, fez a separação dos territórios, criando as capitanias das Minas de Ouro e de São Paulo, que se juntaram à já fundada do Rio de Janeiro.

A povoação continuou a prosperar e, em 08 de julho de 1713, a região foi elevada à condição de vila da Capitania das Minas do Ouro, herdando o nome do primeiro português a ocupar suas terras e em homenagem ao então rei de Portugal, Dom João V. Nascia então São João del Rei, um agrupamento dos povoados do Rio das Mortes e Porto Real da Passagem. Oficialmente, a fundação do município data de 08 de dezembro de 1713 pelo governador Dom Braz Balthazar da Silveira.



Aqui, as igrejas contam história

Logo que se instalaram na região, os portugueses começaram a edificação de capelas. A primeira foi erguida no Morro da Forca e consagrada à Nossa Senhora do Pilar, atual padroeira da cidade. Com o desenvolvimento do arraial e fruto da exploração do ouro, a capela deu lugar a uma das maiores igrejas do Brasil colônia, que tem ornamentos em folhas de ouro, altares esculpidos e o teto atribuído ora a Venâncio José do Espírito Santo, ora a Manoel Ribeiro da Rosa (ainda em investigação).

A cidade é tão rica que, apenas na Rua Direita, estão localizadas ainda outras duas grandes igrejas coloniais: A suntuosa Igreja do Carmo e a simples (e igualmente rica) Igreja do Rosário, cada qual designada para o rito católico de um determinado grupo social da época. Enquanto as primeiras eram frequentadas em sua maioria pela gente branca, a Igreja do Rosário recebia os pretos e mulatos, muitos forçados a praticar ritos católicos.

Um pouco mais atrás, está localizada a Igreja das Mercês, com sua grande escadaria que acaba sendo também uma prova de fé: subir os seus 34 degraus reforça a importância do catolicismo para o povo, mesmo após 300 anos desde a instalação dos primeiros templos na cidade.

Do outro lado do Córrego do Lenheiro, está o principal cartão postal do munício, a Igreja de São Francisco de Assis. Só para se ter uma ideia, a fachada foi projetada por um dos maiores mestres do Barroco, Aleijadinho. O famoso artista, ícone em cidades como Ouro Preto e Congonhas, também deixou em São João del Rei sua marca. Os mestres Francisco de Lima Cerqueira, Francisco de Lima e Silva, Luís Pinheiro de Souza e Aniceto de Souza Lopes finalizaram as obras e contribuíram para a beleza da mais famosa edificação da cidade.

As igrejas históricas seguem o padrão arquitetônico predominante nas Minas Gerais da época. Edificações com capela-mor, altares revestidos de ornamentos, grandes corredores laterais, altas torres e sinos na fachada. O Rococó fazia de cada templo uma verdadeira obra de arte, expressão da fé, poder eclesiástico e importância da vila de São João del Rei.



Maria fumaça ainda parte de São João del Rei

Está em São João del Rei a maria fumaça mais antiga do Brasil ainda em operação. O trem compunha a Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) e percorria mais de 600 km, concebidos com o objetivo de conectar as cidades mineiras à corte do império.

A construção da ferrovia foi aprovada em julho de 1878. Sua inauguração aconteceu 3 anos depois, em agosto de 1881, quando contou com a presença do Imperador Dom Pedro II, ainda com apenas 100 km de extensão, passando pelas atuais cidades de Barroso e Tiradentes.

Hoje, a estrutura é administrada pela empresa VLI e realiza o passeio turístico entre as históricas cidades de São João del Rei e Tiradentes. Para quem quer conhecer um pouco mais de história, a dica é chegar à estação um pouco mais cedo e visitar o Museu Ferroviário acomodado no pátio.




Cidade é polo do Campo das Vertentes

Desde os primórdios, São João del Rei tem aptidão para o comércio. Sua área comercial extrapola os limites da antiga vila e se estende pelos diversos bairros que compõem o município. Grandes indústrias contribuem para o destaque do produto interno bruto (PIB) sanjoanense. Os números são impressionantes:

- 10.959 estabelecimentos ativos junto à Receita Federal até 31/10/2023. 

- Produto interno bruto (PIB) de R$ 2,4 bilhões, em 2020.

Aos mais de 90 mil habitantes do município se somam os moradores de outras 14 localidades, como Tiradentes, Prados e Resende Costa, que trabalham, consomem produtos e serviços sanjoanenses e ajudam a impulsionar o comércio e a indústria no local.



São João é nomeada a capital nacional da cultura

Casarões históricos, teatro, museus, eventos ao ar livre e uma série de outros atributos deram a São João del Rei o título de Capital Nacional da Cultura, no ano de 2007. Acontecimento este que de forma alguma surpreende aos moradores e turistas que passeiam pelas ruas de pedra e participam dos eventos organizados por universidades e outras instituições públicas e privadas.

O conjunto arquitetônico e urbanístico do município foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ainda em 1938 e conta com aproximadamente 700 bens inventariados. A cidade ostenta preservadas edificações do período colonial, grade parte aberta à visitação e palco de eventos.

Ao som dos sinos, juntam-se os instrumentos e vozes das diversas orquestras do município, que enriquecem as missas e outras atividades religiosas. Destaque para o fato de um dos grupos musicais mais antigos do mundo ainda em atuação estar sediado em São João del Rei. É a Lira Sanjoanense, que, junto de outras importantes instituições, preservam a arte da música sacra e garantem a perpetuação deste bem imaterial.


Dados do IBGE 2022

Fundação: 08/12/1713

População: 90.225 habitantes

Área: 1.452,002km²

Densidade demográfica: 62,14 hab/km²

IDHM: 0,758

PIB per capita: R$ 27.659,48 (2020)

Aniversário: 08 de dezembro

Localização: Região do Campo das Vertentes, Minas Gerais, Brasil

Gentílico: são-joanense ou sanjoanense

Prefeito 2021-2024: Nivaldo José de Andrade (PSL)

Vereadores exercício 2021-2024: Claudinho da Farmácia (PSDB), Dondom (PRTB), Edmar da Farmácia (PSDB), Fabiano Rocha Pinto (Democratas), Igor Luiz Sandim Gonzaga (Podemos), Livia Guimarães Carvalho (PT), Mara Protetora dos Animais (PSC), Professor Leonardo (PSDB), Rodrigo Filho do João do Banco (PSL), Rogério Bosco da Silva (PT), Rosinha do Moto Taxi (PSL), Sargento Machado (PRTB), Weriton José de Andrade (PSL).


Fontes:

IBGE - https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/sao-joao-del-rei/historico

Iphan - http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1497/

Prefeitura de SJDR - https://biblioteca.saojoaodelrei.mg.gov.br/?Meio=Pagina&INT_PAG=13063

Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/historiab/guerra-dos-emboabas.htm