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8 de Março

Dia Internacional da Mulher é data de comemoração e luta

Em entrevista, vereadoras de São João del Rei falam dos desafios pela igualdade e respeito

Publicado em 08/03/2024 às 06:28

Lívia Guimarães e Rosinha do Moto Taxi (Foto: Divulgação)

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu igualdade de gênero como um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para a humanidade. Além de ratificar a importância da conscientização, a data de hoje, Dia Internacional da Mulher, ajuda também a entender como caminhou a sociedade em torno deste e de outros temas relevantes para o público feminino.

Num recorte menor à governança da ONU, três mulheres representam a voz feminina na Câmara Municipal de São João del Rei, em Minas Gerais. Três num universo de 13 parlamentares: Lívia Guimarães Carvalho (PT), Rosinha do Moto Taxi (União Brasil) e Mara Protetora dos Animais (PSC). Duas aceitaram o convite do Portal da Cidade para uma entrevista, que você confere abaixo.

Mais de 100 anos depois das primeiras comemorações e manifestações relacionadas ao Dia Internacional da Mulher, quais reivindicações ainda são latentes?

Lívia: Várias. Igualdade nos trabalhos domésticos, direito de ir e vir, salário equiparado ao dos homens. Para termos ideia, a questão da igualdade salarial entre homens e mulheres com mesmo cargo ou função só virou lei no ano passado (Lei 14.611/2023). Então ainda existem reivindicações cruciais que permanecem urgentes.

Rosinha: Somos vistas como sexo frágil. Podemos ocupar posições de poder e sermos seguras de qualquer decisão, como todo homem. E estamos conseguindo conquistar a cada dia mais nossa posição na sociedade.

Hoje, vocês são vereadoras em São João del Rei. Mesmo ocupando espaço de poder, ainda percebem assédio (de qualquer forma) no dia a dia?

Lívia: Claro que existem casos de violência de gênero no dia a dia da Câmara! Estou no último ano desses três mandatos legislativos. Teve uma vez que, durante uma reunião na qual eu não estava presente, o líder de governo fez um comentário muito machista, ofensivo e discriminatório. Ele disse: “Lívia, vai cuidar do seu bebezinho”, depois de eu ter feito uma cobrança por mais ações por parte da administração municipal. Eu estava fazendo um dos meus trabalhos enquanto parlamentar, que é fiscalizar o Poder Executivo, e o vereador veio me mandar cuidar do meu filho, que na época, tinha poucos meses de vida. Será que ele falaria isso com algum vereador homem?

Rosinha: É uma pauta muito delicada e que exige respeito. Contudo, tenho minha voz e todos sabem o meu lugar.

A casa legislativa do município tem 10 vereadores e 3 vereadoras. Ainda assim, é possível legislar em pé de igualdade?

Lívia: Além desse caso (acima) que ganhou repercussão até na imprensa de fora da cidade, existem outros casos e tipos de agressões, quando, por exemplo, interrompem, ignoram ou tentam silenciar a minha fala. Isso faz com que eu tenha que falar mais alto! E aí, o quê acontece? Me chamam de “brigona”. Isso não aconteceria se fosse um homem buscando ser ouvido. É claramente diferente o tratamento dado a uma mulher na política.

Rosinha: Na câmara, temos voz, mas acho que pode melhorar muito ainda, é necessário que mais mulheres encarem seu papel e assumam que podem ter poder sim! Crescendo, teremos mais voz ainda.

Entendem que ainda existam leis federais que privilegiam o homem em detrimento da mulher?

Lívia: Não, já que uma lei desse tipo seria considerada inconstitucional, pois a Constituição Brasileira de 1988 garante igualdade entre os gêneros. O que existe é uma dinâmica social que ainda favorece os homens dentro da sociedade.

Rosinha: Acredito que, quanto mais mulheres ocuparem posições de poder, isso vai mudar e muito!

Na câmara, há pautas que visam trabalhar o empoderamento feminino em São João del Rei e que podem ganhar força de lei?

Lívia: Na câmara em geral, não, mas como vereadora, aproveito os espaços que tenho para promover pautas de empoderamento feminino. Inclusive, tenho três leis de minha autoria que estão diretamente ligadas a isso: uma que trata sobre a dignidade menstrual e distribuição de absorventes no município, a outra que proíbe condenados pela lei Maria da Penha, que ainda estiverem cumprindo pena, sejam nomeados para cargos comissionados e uma terceira que é a luta contínua pela implantação do plantão pediátrico.

Rosinha: Hoje não temos pauta específica sobre o empoderamento da mulher, mas no dia a dia esses projetos vão sendo apresentados e apreciados pelos vereadores.

Vocês veem esperança para um futuro mais justo, especialmente para mulheres de baixa renda e com poucos espaços de fala?

Lívia: Com certeza! Apesar de o ambiente político ainda ser muito machista e, muitas vezes, desfavorável às mulheres, eu acredito na força da política que pode levar a um futuro mais justo e igualitário para toda a sociedade! Em outubro, acontecem as eleições municipais que definirão quem vai representar os moradores de São João na Câmara e na Prefeitura. É um ótimo momento para fortalecer esse trabalho em busca de uma cidade realmente justa e igualitária.

Rosinha: Com certeza! Acho que o primeiro passo é não ter medo do nosso sexo e encarar que podemos ir longe, somos capazes e conseguimos. Só acreditamos em nós mesmas! A mulher é o futuro da sociedade melhor e mais organizada.

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